A Federação Nacional de Educação (FNE) defendeu hoje que o veto presidencial ao diploma sobre progressões na carreira docente “não resolve por si só” a contagem do tempo congelado, mas “é um passo” nesse sentido e promete não desistir.
“O nosso objetivo é fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para contabilizar os seis anos, seis meses e 23 dias. Este veto não resolve por si só este problema, agora é um passo que é dado no sentido de manter em aberto a discussão e a possibilidade de atingirmos este objetivo”, disse à Lusa o secretário-geral da FNE, Pedro Barreiros, sobre o veto do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao diploma do Governo que estabelecia os mecanismos de aceleração de progressão na carreira de educadores e professores.
De acordo com uma nota divulgada no site da presidência, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu aspetos positivos ao diploma - “alguns dos quais resultantes de aceitação de sugestões da presidência da República” -, mas justificou a devolução do texto sem promulgação “apontando a frustração da esperança dos professores ao encerrar definitivamente o processo”, acrescentando que cria “uma disparidade de tratamento entre o Continente e as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira”.
Marcelo Rebelo de Sousa aponta sobre a matéria uma diferenciação entre professores, com contagens de tempo de serviço distintas, criando-se assim “novas desigualdades”.
Num texto com oito pontos, Marcelo Rebelo de Sousa discorda do argumento central que tem sido apontado pelo Governo para não devolver de forma integral o tempo de serviço dos professores: “Não há nem pode haver comparação entre o estatuto dos professores, tal como o dos profissionais de saúde, e o de outras carreiras, mesmo especiais”.
“Governar é escolher prioridades. E saúde e educação são e deveriam ser prioridades se quisermos ir muito mais longe como sociedade desenvolvida e justa”, defendeu, considerando que “apostar na educação é mais do que pensar no curto prazo, ou em pessoas, situações, instituições, do passado próximo ou do presente, ou calcular dividendos políticos”.
Pedro Barreiros apontou “a satisfação” da FNE com o veto e com o facto de o comunicado do Presidente da República apontar questões que correspondem às reivindicações sindicais, “mas a verdadeira satisfação só poderá ocorrer quando for contabilizado o tempo de serviço”.
Para o secretário-geral da FNE, as declarações do ministro das Finanças, Fernando Medina, em entrevista ao Público na terça-feira, nas quais voltou a fechar a porta a uma recuperação integral do tempo de serviço dos docentes, seguem uma linha na qual os ministros da Educação e das Finanças, mas também o primeiro-ministro “não se cansaram de ao longo dos últimos meses de forma repetida dizer que não havia condições para essa recuperação”.
Pedro Barreiros insiste que existem condições financeiras para essa recuperação, assim como existe “uma teimosia do primeiro-ministro em não querer reconhecer este tempo de serviço e a justiça desta recuperação”.
Admite que o possível regresso do diploma à Assembleia da República vá esbarrar na maioria absoluta socialista, mas promete que a FNE não irá desistir.
“Não somos ingénuos ao ponto de não perceber que existe um Governo com maioria absoluta e que mesmo podendo ir para a Assembleia da República a discussão existe um partido político que tem maioria parlamentar. Por si só, se não tiverem outra forma de ver a questão, será muito difícil por essa via conseguirmos. Agora, nós não vamos desistir”, disse.
“Nada muda hoje, mas acreditamos que vai mudar, seja com este Governo ou com outro qualquer, porque nós acreditamos nesta reivindicação e na justiça da mesma”, acrescentou.
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